segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Lago

    Sentada no último degrau do píer, com os pés agitando a água cristalina,estava Nina.Ela olhou para o leste,apertando os olhos pois o sol nascente que sai de trás da montanhas atrapalhava-a.O dia parecia que ir ser ótimo.Logo viu que estava enganada,uma nuvem cinza se pôs entre o sol e ela.A massa cinzenta avançou no céu como um lençol.

-         Nossa, que esquisito!- Comentou ela.

   Ela se levantou,subiu os degraus e olhou para o  enorme lago,suas águas começavam a ondular.A nuvem já tomava conta de metade do céu.
   Tirando a feiúra cinza que cobria o lugar,era lindo lá.As montanhas,o lago,a casa.Uma casa imensa que ficava os pés um dos montes,feita de madeira nobre,cheia de ângulos retos,forma retangular e com enormes janelas de vidro que ocupavam o lugar de uma parede.Era ótimo passar aquele final de semana com André,seu namorado.Depois de dar uma última olhada na paisagem ela apertou o robe contra o corpo e caminhou pelas tábuas escuras do píer até a casa.
    Já dentro da casa,Nina se dirigiu a cozinha para preparar o café.
    O apito do bule anunciou a entrada de André,que com um sorriso sonolento disse um “bom dia” baixo.Ele abraçou Nina por trás e deu-lhe um beijo no canto da boca.Ela sorriu.Ele olhou para o céu e arregalou os olhos.

-         Pô!Mas a previsão do tempo disse que ia fazer sol e calor de 25 graus!
-         É,também achei esquisito.E lá fora já ta esfriando.- Acrescentou Nina.

   Depois de tomarem uma xícara de café e comer ¼  de bolo de laranja,os dois foram para a sala de estar.
   Ao meio dia a chuva começou a apedrejar a casa com força,o vento açoitava as árvores das matas que cobriam as montanhas e os trovões atrapalhavam o casal sentado no sofá que via tv.
   Um relâmpago iluminou a sala toda com seu brilho azulado,desfazendo a “conchinha” em que os namorados estavam.Eles olharam pelas grandes janelas o efeito que ele fez na paisagem e poucos segundos depois se assustaram com o trovão ensurdecedor que apagou todas as luzes da casa.Nina irritada reclamou:
-         Puta que pariu!Será que a gente vai conseguir aproveitar essa porra de final de semana?! Chegamos ontem a noite depois de horas de viagem de carro pra ficarmos dentro de casa sem luz?!
-         Cacete!Se acalma Nina eu vo ligar pro caseiro.Ele vai ligar o gerador.- Depois de suspirar,André foi à bancada da televisão e pegou o rádio ao lado dela.Ele apertou um botão na lateral do aparelho,que fez seu som característico e irritante avisando que o sinal fora mandado.
-         Zé,liga o gerador faz favor.
-         Craro Seu André!- Respondeu com prontidão o caseiro Zé Maria.
-         Valeu cara.- Disse André finalizando a chamada e botando o rádio na estante novamente.Pouco mais de 2 minutos depois as luzes reacenderam.

     Antes de André se sentar Nina sugeriu que eles assistissem um filme,então ele foi apanhar o DVD.Ele conectava a bugiganga cheia de fios enquanto ela pegava umas “porcarias” na despensa.O filme escolhido era uma comédia satirizando fatos dos relacionamentos.Que o estúdio de dublagem fez o favor de estragar o título,que era:”Uma Comédia Romântica Um Tanto Ácida”  .
     Nem era 13:30 quando os dois haviam caído no sono e perdido metade do filme.

                                           ************
    A chuva caía sobre seus corpos jovens.Suas roupas molhadas colavam no corpo.Estava tudo deserto.Eles dançavam em uma sincronia desorganizada.Eles riam.Se beijavam.Se rijavam.Se beiam.Sua valsa era o som da chuva que batia neles mesmo e no chão.Chão que era cinza,como tudo ao seu redo.O horizonte era nebuloso.Mas eles estavam excitados e vivos naquele vazio úmido.Ela começou a tirar seu roupão.Ele abaixou sua samba-canção.Ela levantava o babydoll enquanto ele já pronto, tirava a última peça de baixo que sobrava no corpo dela.Não havia casualidade no seu ato carnal, só paixão.Eles iam e vinham,harmoniosamente.Até que um rangido longo e angustiante atrapalhou-os e um estrépito de desmoronamento os despertou.

                                          ************
    Os sons altos que indicavam desgraça acordaram Nina e André de seu sono e seu sonho.Os namorados atordoados se levantaram do sofá resmungando e alongando-se.Ele massageou a área entre as pernas e ela os seus seios.A chuva não tinha parado e a casa estava de novo na escuridão.Um clarão permitiu André verificar as horas no relógio da parede, “19: e alguma coisa”  foi o que ele permitiu-o ver.
    Uma corrente de ar gelado passou pelo casal.Nina apertou o robe contra si.André abraçou-se antes de abraçar sua amada.Ela vinha da cozinha.Eles foram a sua origem.
    Entraram na cozinha pelo portal que a ligava a sala.Cozinha compridissima onde se podia entrar também por um portal ligado ao vestíbulo.Eles olharam para sua outra extremidade.Uma árvore gigantesca caíra sobre boa parte da cozinha,além de ter destruído parte da pia.Seus ganhos nodosos e grossos quebraram madeira,azulejos e mármore caros.Nina ficou boquiaberta e André xingou o nada,lamentando-se.Ele foi a um armário do seu lado para apanhar uma lanterna e ver o tamanho do estrago (estava pensando no que seus pai diriam).
     A luz azul de um raio que caíra próximo iluminou a casa,incluindo a cozinha.André pegou a lanterna na mesma hora que Nina gritou apavorada.André imediatamente se virou e ligou a lanterna.Ele iluminou a imagem mais assustadora que vira na vida.O caseiro Zé Maria estava entre os galhos da grande árvore,morto.
     Nina abraçou com força André,ela choramingava.
     Ele observou o corpo.Estava sem camisa,com uma corda envolta do pescoço,a outra parte dela estava em um dos galhos.Seus olhos estavam esbugalhados,sua última expressão,gravada pela morte,era de medo e espanto.O homem magro,de meia idade,pardo,estava pálido.André desceu o olhar e viu em seu peito nu e ensangüentado os dizeres “ Surpresa” escritos na pele do morto em riscos vermelhos.Sangue descia do final das letras.
     O dia fora escuro,seus sonhos emocionantes.Mas aquela noite seria muito mais escura,muito mais sombria,e o que aconteceria dali pra frente seria pior que qualquer um mais perturbadores pesadelos deles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário